segunda-feira, 15 de março de 2010

O PAPEL DO PROFESSO NA EDUCAÇÃO SEXUAL

O PAPEL DO PROFESSOR
    O professor exerce um importante papel na sexualidade da criança, que deve ser orientada de forma a preparar o indivíduo para a vida. Porém, para educar é preciso que o educador esteja preparado para tal tarefa.
  Encontramos na maioria das escolas, grande deficiência na didática utilizada pelo professor. Muitas escolas que incorporaram no seu currículo a educação sexual, não se encontram preparados para assumir tal responsabilidade. Podemos constatar tal afirmativa no seguinte relato:  
“Resultados de uma pesquisa que realizamos com professores sobre educação sexual, apontaram para a necessidade de sua formação exigindo, desta forma, o desenvolvimento de programas adequados à sua capacitação nesta área. Obviamente tais resultados eram esperados, uma vez que as Faculdade de Educação e os cursos de formação de professores de 1º e 2º graus pouco ou nenhum preparo propiciam em relação à sexualidade humana, com enfoques multidisciplinares” (Fagundes, 1995, p. 21).
    Antes de começarmos a falar da sala de aula, abordaremos uma situação diante da qual muitas escolas ainda não se prepararam para enfrentar e que, acontecendo e não havendo a orientação adequada, haverá uma repercussão bastante negativa na vida do aluno. Vejamos: como reage um funcionário da limpeza que pega duas crianças no banheiro, por exemplo, mexendo em seus órgãos genitais, ou um mexendo no outro, ou quando pega duas meninas se beijando, ou um casal se acariciando? Será que esta pessoa está preparada para lidar com esta situação? Que procedimento ela deveria tomar? Uma pessoa despreparada teria como reação imediata gritar, espantar-se, mencionar palavras que possam humilhar, ou mesmo espalhar entre outros funcionários ao invés de encaminhá-los ao setor de orientação para que o orientador possa conversar, explicar as diferenças entre meninos e meninas, falar da homossexualidade, enfim, o que ocorrer.
A escola deverá estar atenta a estas situações, que poderão ocorrer em qualquer idade, e preparar seus funcionários para enfrentá-las sem espanto, desde os auxiliares da limpeza, porteiros, recepcionistas, secretárias enfim, todo corpo de funcionários.
Lembro-me de uma amiga que me ligou desesperada porque a escola a chamou para contar que sua filha de cinco anos estava na casinha do parque da escola com um menino e uma menina da mesma idade, abaixando o short e mostrando seus órgãos genitais. Esta mãe disse que chorou muito e não sabia o que fazer. Disse-lhe então que isto era normal nesta idade, que era uma fase de descobertas das diferenças sexuais, que a curiosidade era natural. Sugeri que comprasse um livro infantil sobre sexo e que mostrasse, através das ilustrações, as diferenças entre meninos e meninas entre homens e mulheres, e sempre que a criança mostrar interesse, conversar sem fazer alarmes.
É difícil falar, em sala de aula, sobre homossexualidade, quando há um aluno homossexual e cujos colegas ainda não estão amadurecidos para aceitá-lo ocorrendo, desta forma, piadas e risos que machucam e levam à baixa auto-estima, podendo ter, como conseqüência, baixa no rendimento escolar. O orientador deverá incluir na sua fala temas como respeito e preconceito.
Bem como é difícil também falar sobre abuso sexual quando se sabe que alguém já foi vítima deste drama. Em sua grande maioria, a vítima não sabe reconhecer o abuso e conseqüentemente não saberá proteger-se. A vítima sente vergonha, insegurança, medo e culpa pela situação achando que ela provocou o abuso. A maioria das pesquisas mostra que este tipo de abuso parte de pessoas muito próximas como padrastos e até mesmo o pai ou irmão. Os danos causados não ficam apenas no âmbito físico. Ocorrem danos principalmente psicológicos prejudicando o desenvolvimento de sua personalidade. Em geral os sintomas são aparentes: relaciona-se mal e pouco com outras crianças, demonstra timidez, depressão e insegurança; apresenta, muitas vezes, nervosismo, comportamento compulsivo e distúrbios de sono.
Entretanto o orientador não poderá deixar-se intimidar. É necessário informar, discutir, ouvir e orientar falando de forma clara para que possam compreender que é algo errado, que a pessoa não deve se sentir culpada pelo que está acontecendo e a importância da denúncia, sem, no entanto mencionar o nome da vítima, é claro. Desta forma espera-se que o aluno que estiver passando por esta situação, adquira confiança no orientador a ponto de se abrir em particular e pedir ajuda.
O objetivo da educação sexual na escola consiste em colocar professores com um preparo adequado e desempenhar de forma significativa seu papel, ajudando os alunos a superarem suas dúvidas, ansiedades, angústias, pois “A criança chega na escola com todo tipo de falta de informação e geralmente com uma atitude negativa em relação ao sexo. As dúvidas, as crendices e posições negativas serão transmitidas aos colegas”. (SUPLICY, 1983, p. 49)
Educação sexual não significa apenas passar informações sobre sexo. Significa também o contato pessoa / pessoa, transmissão de valores, atitudes, comportamentos. É importante observar se estes educadores estão preparados psicologicamente para falar sobre sexo. A maioria não fez nenhum tipo de curso. O que sabem é baseado em curiosidades de revistas e troca de informações com colegas, ou na leitura de livros que só traduz o biológico sem levar em conta respeito, sentimentos e emoções como já foi dito.
Muitos destes orientadores não possuem a própria sexualidade bem resolvida, tendo problemas com seu parceiro ou consigo mesmo em relação ao sexo. Em seu discurso, certamente passarão um tom de frustração e inquietação.
         De acordo com Teles “As pessoas encarregadas de orientação sexual na escola devem ter autenticidade, empatia e respeito. Se o lar está falhando neste campo, cabe à escola preencher lacunas de informações, erradicar preconceitos e possibilitar as discussões das emoções e valores” (1992, p. 51).
         Os professores também devem evitar emitir seus próprios juízos de valores e opiniões como verdade absoluta. Sabemos que é impossível ficar totalmente isentos de opinar e nem devemos, mas é importante que as questões sejam lançadas, refletidas, discutidas, sem que apenas uma resposta fique como a correta.
         Esclarecer os limites também faz parte do papel do orientador. Este deve mencionar algumas questões importantes como o que se pode fazer em locais públicos e privados para que a intimidade seja preservada. Isso cabe principalmente às crianças que ainda não possuem esta noção bem definida.
         Falar sobre a aprovação das brincadeiras sexuais, do consentimento do outro, é muito importante. Explicar que tais brincadeiras não devem ser feitas entre adultos e crianças ou entre crianças e adolescentes.
         Deve existir também uma efetiva parceria, ou seja, os pais não devem delegar e restringir este assunto apenas no âmbito escolar. Para que isto aconteça é necessário que a escola dê um retorno aos pais do que está sendo visto, as reações dos alunos, temas que estão em pauta, convite aos pais para assistirem debates juntamente com os alunos e estar aberta aos pais para orientá-los no caso de não saberem como lidar com os questionamentos dos filhos.
         Alunos com desempenhos ruins podem estar passando por problemas ou crises, o que é muito comum na adolescência. Com um olhar mais aguçado, o professor poderá perceber a inquietação do aluno. Situações como encontrar pornografias nas portas dos banheiros, nas carteiras, agressividade utilizando-se de palavrões relativos ao sexo já merece uma atenção especial. São formas que o adolescente utiliza para expressar seus medos, angústias e distorções. Cabe ao professor, esclarecido e consciente de seus deveres, ajudá-los na superação desta fase tão difícil para muitos tendo como objetivo o esclarecimento e amadurecimento do indivíduo.
A escola deve informar aos pais sobre o projeto de orientação sexual para que os pais concordem e estejam cientes, evitando serem pegos de surpresa com frases ditas pelos filhos como: “hoje a professora mostrou um pênis e uma vagina”.
De acordo com o PCN´s  - Orientação Sexual, escolas que tiveram bons resultados com a orientação sexual, relatam resultados como aumento do rendimento escolar, devido ao alívio de tensão e preocupação com questões da sexualidade e aumento da solidariedade e do respeito entre os alunos. Para crianças menores relatam que informações corretas ajudam a diminuir a angústia e agitação em sala de aula (p. 122, 1997).
CONCLUSÃO
Desde 1989 em seu livro Etiologia Sexual das Neuroses, Freud já mencionava a necessidade de mudanças dizendo que: “Seria necessário mudar muitas coisas... Mas é preciso, sobretudo dar lugar à discussão dos problemas da vida sexual junto à opinião pública. Terá que ser possível falar dessas coisas sem sermos considerados um fator de problemas ou alguém que explora os instintos mais baixos. E aqui também há muito o que fazer para que no decorrer dos próximos cem anos nossa civilização aprenda a se compor com as exigências de nossa sexualidade”. (BETTS, p. 48, 1995)
A educação para a sexualidade deve considerar que para o indivíduo viver com plenitude no mundo que o cerca, é preciso estar sensibilizado para respeitar a si mesmo e aos outros, saber relacionar-se, ter responsabilidade, crer na vida e procurar vivê-la com prazer, conhecendo seus próprios direitos inclusive o de ser feliz.
Toda educação sexual precisa fundamentar-se nos alicerces da vida do ser humano, marcada pelos registros inconscientes dos primeiros contatos e experiências. Os pais e educadores devem estar conscientes de que a educação sexual correta desde a infância promove o desenvolvimento de um ser humano saudável mentalmente e fisicamente. O indivíduo aprende a refletir sobre seus valores, distinguindo o conceito de certo e errado diante do mundo em que vive. Aprenderá a respeitar a individualidade e a opção sexual de cada um, pois o importante é viver e estar bem resolvido consigo mesmo.
Fagundes nos diz que “É preciso criar oportunidades para que as pessoas reflitam sobre suas idéias, sentimentos e conflitos na área da sexualidade e envolvam a totalidade do seu ser na re-interpretação e reconstrução da realidade”.
Este indivíduo terá maiores chances de crescer como um ser dotado de maturidade suficiente para saber conduzir cada momento novo que vive, cada problema de forma consciente e segura.

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