O PAPEL DO PROFESSOR
Encontramos na maioria das escolas, grande deficiência na didática utilizada pelo professor. Muitas escolas que incorporaram no seu currículo a educação sexual, não se encontram preparados para assumir tal responsabilidade. Podemos constatar tal afirmativa no seguinte relato:
“Resultados de uma pesquisa que realizamos com professores sobre educação sexual, apontaram para a necessidade de sua formação exigindo, desta forma, o desenvolvimento de programas adequados à sua capacitação nesta área. Obviamente tais resultados eram esperados, uma vez que as Faculdade de Educação e os cursos de formação de professores de 1º e 2º graus pouco ou nenhum preparo propiciam em relação à sexualidade humana, com enfoques multidisciplinares” (Fagundes, 1995, p. 21).
A escola deverá estar atenta a estas situações, que poderão ocorrer em qualquer idade, e preparar seus funcionários para enfrentá-las sem espanto, desde os auxiliares da limpeza, porteiros, recepcionistas, secretárias enfim, todo corpo de funcionários.
Lembro-me de uma amiga que me ligou desesperada porque a escola a chamou para contar que sua filha de cinco anos estava na casinha do parque da escola com um menino e uma menina da mesma idade, abaixando o short e mostrando seus órgãos genitais. Esta mãe disse que chorou muito e não sabia o que fazer. Disse-lhe então que isto era normal nesta idade, que era uma fase de descobertas das diferenças sexuais, que a curiosidade era natural. Sugeri que comprasse um livro infantil sobre sexo e que mostrasse, através das ilustrações, as diferenças entre meninos e meninas entre homens e mulheres, e sempre que a criança mostrar interesse, conversar sem fazer alarmes.
É difícil falar, em sala de aula, sobre homossexualidade, quando há um aluno homossexual e cujos colegas ainda não estão amadurecidos para aceitá-lo ocorrendo, desta forma, piadas e risos que machucam e levam à baixa auto-estima, podendo ter, como conseqüência, baixa no rendimento escolar. O orientador deverá incluir na sua fala temas como respeito e preconceito.
Bem como é difícil também falar sobre abuso sexual quando se sabe que alguém já foi vítima deste drama. Em sua grande maioria, a vítima não sabe reconhecer o abuso e conseqüentemente não saberá proteger-se. A vítima sente vergonha, insegurança, medo e culpa pela situação achando que ela provocou o abuso. A maioria das pesquisas mostra que este tipo de abuso parte de pessoas muito próximas como padrastos e até mesmo o pai ou irmão. Os danos causados não ficam apenas no âmbito físico. Ocorrem danos principalmente psicológicos prejudicando o desenvolvimento de sua personalidade. Em geral os sintomas são aparentes: relaciona-se mal e pouco com outras crianças, demonstra timidez, depressão e insegurança; apresenta, muitas vezes, nervosismo, comportamento compulsivo e distúrbios de sono.
Entretanto o orientador não poderá deixar-se intimidar. É necessário informar, discutir, ouvir e orientar falando de forma clara para que possam compreender que é algo errado, que a pessoa não deve se sentir culpada pelo que está acontecendo e a importância da denúncia, sem, no entanto mencionar o nome da vítima, é claro. Desta forma espera-se que o aluno que estiver passando por esta situação, adquira confiança no orientador a ponto de se abrir em particular e pedir ajuda.
O objetivo da educação sexual na escola consiste em colocar professores com um preparo adequado e desempenhar de forma significativa seu papel, ajudando os alunos a superarem suas dúvidas, ansiedades, angústias, pois “A criança chega na escola com todo tipo de falta de informação e geralmente com uma atitude negativa em relação ao sexo. As dúvidas, as crendices e posições negativas serão transmitidas aos colegas”. (SUPLICY, 1983, p. 49)
Educação sexual não significa apenas passar informações sobre sexo. Significa também o contato pessoa / pessoa, transmissão de valores, atitudes, comportamentos. É importante observar se estes educadores estão preparados psicologicamente para falar sobre sexo. A maioria não fez nenhum tipo de curso. O que sabem é baseado em curiosidades de revistas e troca de informações com colegas, ou na leitura de livros que só traduz o biológico sem levar em conta respeito, sentimentos e emoções como já foi dito.
Muitos destes orientadores não possuem a própria sexualidade bem resolvida, tendo problemas com seu parceiro ou consigo mesmo em relação ao sexo. Em seu discurso, certamente passarão um tom de frustração e inquietação.
De acordo com Teles “As pessoas encarregadas de orientação sexual na escola devem ter autenticidade, empatia e respeito. Se o lar está falhando neste campo, cabe à escola preencher lacunas de informações, erradicar preconceitos e possibilitar as discussões das emoções e valores” (1992, p. 51).
Os professores também devem evitar emitir seus próprios juízos de valores e opiniões como verdade absoluta. Sabemos que é impossível ficar totalmente isentos de opinar e nem devemos, mas é importante que as questões sejam lançadas, refletidas, discutidas, sem que apenas uma resposta fique como a correta.
Esclarecer os limites também faz parte do papel do orientador. Este deve mencionar algumas questões importantes como o que se pode fazer em locais públicos e privados para que a intimidade seja preservada. Isso cabe principalmente às crianças que ainda não possuem esta noção bem definida.
Falar sobre a aprovação das brincadeiras sexuais, do consentimento do outro, é muito importante. Explicar que tais brincadeiras não devem ser feitas entre adultos e crianças ou entre crianças e adolescentes.
Deve existir também uma efetiva parceria, ou seja, os pais não devem delegar e restringir este assunto apenas no âmbito escolar. Para que isto aconteça é necessário que a escola dê um retorno aos pais do que está sendo visto, as reações dos alunos, temas que estão em pauta, convite aos pais para assistirem debates juntamente com os alunos e estar aberta aos pais para orientá-los no caso de não saberem como lidar com os questionamentos dos filhos.
Alunos com desempenhos ruins podem estar passando por problemas ou crises, o que é muito comum na adolescência. Com um olhar mais aguçado, o professor poderá perceber a inquietação do aluno. Situações como encontrar pornografias nas portas dos banheiros, nas carteiras, agressividade utilizando-se de palavrões relativos ao sexo já merece uma atenção especial. São formas que o adolescente utiliza para expressar seus medos, angústias e distorções. Cabe ao professor, esclarecido e consciente de seus deveres, ajudá-los na superação desta fase tão difícil para muitos tendo como objetivo o esclarecimento e amadurecimento do indivíduo.
A escola deve informar aos pais sobre o projeto de orientação sexual para que os pais concordem e estejam cientes, evitando serem pegos de surpresa com frases ditas pelos filhos como: “hoje a professora mostrou um pênis e uma vagina”.
De acordo com o PCN´s - Orientação Sexual, escolas que tiveram bons resultados com a orientação sexual, relatam resultados como aumento do rendimento escolar, devido ao alívio de tensão e preocupação com questões da sexualidade e aumento da solidariedade e do respeito entre os alunos. Para crianças menores relatam que informações corretas ajudam a diminuir a angústia e agitação em sala de aula (p. 122, 1997).
CONCLUSÃO
Desde 1989 em seu livro Etiologia Sexual das Neuroses, Freud já mencionava a necessidade de mudanças dizendo que: “Seria necessário mudar muitas coisas... Mas é preciso, sobretudo dar lugar à discussão dos problemas da vida sexual junto à opinião pública. Terá que ser possível falar dessas coisas sem sermos considerados um fator de problemas ou alguém que explora os instintos mais baixos. E aqui também há muito o que fazer para que no decorrer dos próximos cem anos nossa civilização aprenda a se compor com as exigências de nossa sexualidade”. (BETTS, p. 48, 1995)
A educação para a sexualidade deve considerar que para o indivíduo viver com plenitude no mundo que o cerca, é preciso estar sensibilizado para respeitar a si mesmo e aos outros, saber relacionar-se, ter responsabilidade, crer na vida e procurar vivê-la com prazer, conhecendo seus próprios direitos inclusive o de ser feliz.
Toda educação sexual precisa fundamentar-se nos alicerces da vida do ser humano, marcada pelos registros inconscientes dos primeiros contatos e experiências. Os pais e educadores devem estar conscientes de que a educação sexual correta desde a infância promove o desenvolvimento de um ser humano saudável mentalmente e fisicamente. O indivíduo aprende a refletir sobre seus valores, distinguindo o conceito de certo e errado diante do mundo em que vive. Aprenderá a respeitar a individualidade e a opção sexual de cada um, pois o importante é viver e estar bem resolvido consigo mesmo.
Fagundes nos diz que “É preciso criar oportunidades para que as pessoas reflitam sobre suas idéias, sentimentos e conflitos na área da sexualidade e envolvam a totalidade do seu ser na re-interpretação e reconstrução da realidade”.
Este indivíduo terá maiores chances de crescer como um ser dotado de maturidade suficiente para saber conduzir cada momento novo que vive, cada problema de forma consciente e segura.
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